Violência (e) política

Hai tempo que via preciso reflexionar num artigo sobre a violência e a sua relaçom com a política. Se o fago aqui e agora apressadamente e de jeito mui parcial é ao fio de certos debates e polémicas derivados das exitosas mobilizaçons estudantis do 20-F e as formas que tiverom de intervir nelas (ou contra elas) certos setores mais ou menos organizados, tanto nos piquetes como nas manifestaçons. Fago-o também condicionado pola dificuldade de escrever com liberdade sobre um tema como este num Estado em que mesmo as opinions som punidas judicialmente.

Começarei por várias obviedades: o uso da violência (entendida em sentido amplo, desde a de mais baixa intensidade até a luita armada ou a guerra) é em princípio indesejável. Porém, nom por isso deixa de ser umha opçom plenamente legítima para quem sofre a opressom, e mesmo pode ser necessária e útil de se darem as circunstáncias, e nalguns casos até ser a única opçom possível. A história está cheia de exemplos que nom cumpre relatar agora. Mas que poda ser necessária ou útil nom implica que sempre o seja, e tam legítimo pode ser exercê-la como criticar o seu uso quando se considera que influi negativamente em relaçom aos fins pretendidos.

Vaia por diante que nom estamos a falar aqui dumha questom moral, nem sequer ética, nem de legitimidades abstractas. Como já se dixo, nom se questiona que seja justo ou admisível usar os mesmos métodos que o sistema tem ao seu dispor para garantir a sua orde. Porém, para o avance dum projeto transformador é tam nefasta a negaçom totalizadora da violência das oprimidas como a sua sacralizaçom, assimilando automaticamente um ato violento em qualquer lugar, em qualquer momento e em qualquer contexto como algo intrinsecamente positivo.

As formas de luita escolhidas em cada momento deveriam estar adaptadas às necessidades da situaçom concreta, deveriam ter em conta a percepçom social que vam provocar, e contra quem vam dirigidas. Valorar se as pessoas ou interesses danados com umha açom tenhem ou nom a ver com o conflito, ou mesmo se som (ou poderiam ser) do campo próprio. Considerar se permitem somar vontades a umha luita concreta ou tenhem justo o efeito contrário. Estes, e nom outros, som os debates que sairom à luz em relaçom ao 20-F e os posicionamentos posteriores. Ignorar esses debates é falsear conscientemente a polémica para tentar suplir com demagogia e retórica a carência de argumentos para defender certas atitudes mais viscerais que racionais.

Em base aos critérios antes definidos, está claro que cada quem pode fazer análises diferentes e interpretar de distintas formas os mesmos feitos e a sua pertinência. Porém, o que cumpre reivindicar é a plena legitimidade de criticar certas açons ou formas de luita se entendemos que prejudicam a causa que dim defender. Nom é de recibo pois assimilar crítica política com “criminalizaçom” nem as acusaçons de colaboracionismo co inimigo. Trata-se só de desvincular-se politicamente de dinámicas que se entende que para nada ajudam aos objetivos supostamente pretendidos. É umha critica puramente política a certos métodos de luita pretendidamente política, ainda que para exercé-la nom seja preciso recorrer nem à retórica das “condenas” abstractas nem à linguagem sistémica.

Nom é legítimo iniciar determinado tipo de dinámicas numha mobilizaçom sem que estas contem com a cumplicidade ou o acordo tanto de quem a impulsa como de quem fai parte dela. É, como mínimo, desleal e oportunista. Por exemplo, o 24 de julho as organizaçons convocantes da histórica manifestaçom juvenil unitária pola independência tínhamos consensuado evitar atos que pudessem impedir o normal desenvolvimento da mobilizaçom, o seu remate e o sucesso da mesma. Acordamos tentar evitar que ninguém rebentasse a manifestaçom ou facilitasse ao Estado cumprir o seu desejo de que a mesma nom se celebrasse e fosse um êxito. E sigo a pensar que foi um acerto.

Temos diversos exemplos de que certas açons violentas podem ajudar a visibilizar conflitos que noutro caso passariam desapercibidos. De feito muitas vezes é o único recurso para isso e assi o manifestam as suas protagonistas (“nom temos mais remédio, é a única forma de fazer-nos ouvir”). Porém, noutros casos o efeito é justo o contrário, desviando o foco dumha mobilizaçom exitosa e massiva à iniciativa individual dumhas poucas pessoas. Bem é certo que determinados desmarques públicos sobredimensionando certas atuaçons contribuem a isso mesmo, polo que hai que evitar entrar num jogo distorsionador no que já colaboram a polícia, os meios sistémicos e também -consciente ou inconscientemene- certos setores às vezes bem intencionados e outras nom tanto. De feito, cumpre perguntar-se por que em muitos momentos os interesses policiais e de quem inicia certo tipo de açons coincidem plenamente, isto é: dissolver umha mobilizaçom popular. A estas alturas conhecemos numerosos casos em que é a própria polícia quem por meio de pessoas infiltradas provoca que se rebentem importantes manifestaçons, justificando assim as suas cargas e desmobilizando os setores menos conscienciados.

É absudo assimilar mecanicamente violência e combatividade. É infantil reconhecer um maior grau de compromisso a quem tomba um contentor ou rompe um vidro um só dia que a quem durante semanas trabalhou arreo em assembleias, coladas ou repartos para garantir o sucesso dumha greve ou dumha mobilizaçom. Às vezes parece que se privilegia o individual frente ao coletivo, e aplaude-se acriticamente a fugazes “salvadores supremos” cheios de testosterona e ánsia dum protagonismo que deveria corresponder ao conjunto das massas mobilizadas. Fetichizam-se por sistema certas formas de luita mais vistosas frente a outras que exigem maior dedicaçom e esforço. Entra em jogo nestes casos certa épica e mesmo fascinaçom estética por determinadas açons, o que leva a festejá-las em qualquer contexto, independentemente do resultado.

Lenin falava de que a alma viva do marxismo é a análise concreta da situaçom concreta, e isso é pouco compatível com inflamadas consignas vazias e totalizadoras que nom ajudam a entender nada e óbviam a realidade na que hai que aplicá-las. Se queremos ser dignas de nos chamar revolucionariás, deveríamos começar por entender isso, também em relaçom ao debate sobre a violência. Um debate que nom trata sobre se é boa ou má, útil ou inútil em abstracto, mas sobre como, quando e para quê utilizá-la.

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