Revoltas que abalam o mundo

Zhou Enlai participava em 1955 nas negociaçons de paz da guerra da Coreia, quando um jornalista francês lhe perguntou que opinava da Revoluçom Francesa, ao que o primeiro ministro chinês respondeu: “Ainda é cedo de mais para dizê-lo”. Salvando as distâncias, pode que dentro de dous séculos ainda continuemos a discutir -como fai o controvertido debate historiográfico arredor de 1789- sobre as revoltas árabes que abalaram o mundo neste 2011, nascidas onde e quando nada se aguardava agás resignaçom e torpor. Regimes intatos durante décadas toparam-se de súpeto convertidos em Polifemo, enfrentados a um inimigo que nom podem nem sequer nomear, de jeito que muitos déspotas desprezíveis se sentiram por fim indefensos ante a mobilizaçom do seu próprio povo.

No entanto, existe umha permante tentaçom de subestimar as revoltas, explicadas só em funçom de causas imediatas (desemprego, pobreza, repressom) no entanto que o seu desenvolvimento se atribui quase em exclusiva à Internet. Poucas vozes se atrevem a enquadrá-las em levantamentos populares de profundidade, multifacetados, nom fascinados por Europa e EEUU senom inspirados no anti-imperialismo árabe, com dimensons sociais e políticas integradas: opostos à aliança com Ocidente, à crescente polarizaçom social, à corrupçom, à ausência de vieiros reais de participaçom, às privatizaçons massivas, ao saqueio de recursos energéticos, à presença de bases militares ou a submissom a Israel.

As revoluçons triunfantes na República Tunisina e em Egito nom estám isentas de contradiçons, senom carregadas da história recente, e nelas participam diferentes sociais, nom um povo puro e revolucionário inexistente em nengures. Mas nom parece que vaiam ficar num cámbio de títere que mantenha os titeriteiros, numha transiçom que represente umha farsa, como demonstra a vontade de levar os dirigentes ante os tribunais para que respondam polos seus crimes.

No entanto, as mesmas potências que conspiraram para que nom mudara o estado das cousas, agora tentarám redirigir todos os cámbios ao seu favor. Se Foucault assinalava que ali onde há poder, há resistência, também o contrário é certo: ali onde os povos reagem, o imperialismo conspira para fulminá-los, ainda que tenha que abandonar os seus próprios “filhos de puta”, segundo a definiçom de Roosevelt. De facto, Gadafi convertera-se há tempo num aliado firme de Ocidente, até o ponto de cooperar com a campanha de Washington contra insurgentes, incluídos palestinianos de esquerda, e na criminal política migratória da UE, sem esquecer as privatizaçons massivas.

O esquema de insurreiçom do “povo contra o tirano”, por meio de mobilizaçons de massas e dirigido desde dentro, tem umha aplicaçom mais difícil ao caso líbio. Sem que menosprezemos outros factores, as causas inmediatas e objetivas nom parecem inspirar um descontento social da populaçom comparável ao de Egito e Tunísia. Líbia contava com umhas melhores condiçons sociais (alta esperança de vida e o melhor Índice de Desenvolvimento Humano de África) e, apesar da ampla cobertura mediática, nom vimos massas desarmadas nas ruas. Ao contrário, parte do exército declarou-se em rebeliom. Tampouco se tratou dum movimento fundamentalmente endógeno. O Conselho Nacional de Transiçom, rapidamente reconhecido por Ocidente, nom só recebeu apoio militar senom também créditos de países ocidentais. Os Estados europeos, que se dim desprovidos de recursos para a educaçom, a sanidade, as pensons ou os salários, nom duvidam em destinar umha quantidade imensa de dinheiro para financiar a guerra.

Se este esquema se impom é pola propaganda, fiel à sua cita com os preparativos da guerra. Fomos alarmados por acusaçons de genocídio mas o banho de sangue nunca puido ser corroborado. Nom apareceram pegadas dos supostos bombardeios, mas si pudemos ver um aviom da força de Gadafi abatido polos insurgentes no meio dum cessar-fogo (o que teria demonstrado que continuava a atacar a populaçom) para saber ao dia seguinte que o caça, dos rebeldes, fora abatido polos seus companheiros.

O cinismo nom tem cancelas: os últimos precedentes de intervençom humanitária som o protectorado neocolonial de Kosovo e a imposiçom de um regime mafioso, com tramas de tráfico de órgaos humanos; a invasom do Iraque com um milhom de mortos, quatro milhons de deslocados e a destruiçom de umha sociedade; e a catástrofe humanitária no Afeganistám. Curiosamente, cada lugar onde os EUA e a UE tenhem interesses vem a coincidir com um grave problema que só pode ser resolto por umha intervençom. Os agressores, os mais ricos do mundo, padecem de umha fame que só se sacia pola rapina, num mundo sumido numha grave e silenciada crise energética, além de defender outros interesses. Como dizia Jaurès, o capitalismo trai em si a guerra como a nuve trai a tempestade.

Em definitiva, o que acontece nom é tanto umha revolta contra o tirano como umha agressom neocolonial, unha nova e arrogante mission civilatrice contra o ex-aliado, justificada polo “direito de intervençom humanitária”, de extrema flexibilidade.

A panóplia propagandística nom significa que nom existam anceios de umha transformaçom popular contra o governo de Gadaffi. Organizaçons combativas como o Frente Popular de Libertaçom de Palestina (FPLP) pronunciaram-se neste sentido. Isto nom justificaria que equiparássemos responsabilidades de agressor e agredido: só os líbios tenhem direito a construír o seu futuro, esse direito nom pertence às potências para mudar um peom por outro à vez que espoliam o país.

Ainda é cedo de mais para saber se os líbios serám capazes de superar tanta barbárie. E também é cedo para compreender a autêntica dimensom dos cámbios desatados no mundo árabe, mas a história, apesar de Fukuyama, nom remata nunca; umha história que sempre será a da rebeliom, mas também a da guerra, mentres os povos do mundo nom despejemos tam negros nevoeiros.

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