Que comunicaçom?

A evidência de que nom há socializaçom da política sem política comunicativa obriga já a pensar que, sem uma política comunicativa adequada, incluído um mínimo controlo sobre canal, código e mensagem, é impossível umha socializaçom correcta de qualquer ideia política, mais quando som de umha dimensom revolucionária; quando vam à contra do sistema e da sua hegemonia. A ideia da independência da Galiza como consequência lógica da sua conceituaçom como sujeito político, e a ideia de que, ao mesmo tempo, urge começar a construir um sistema socialista radicalmente oposto a este que nos mata, necessitam nom só os melhores argumentários, mas também canais de difusom que permitam socializá-los.

Para a esquerda, e mesmo para o soberanismo, no que provavelmente seja o cenário mais aberto e permeável às nosas razons em décadas, sermos capazes ou incapazes de tecer umha estratégia de comunicaçom efetiva equivale à diferença entre a vida e a morte. Renunciarmos a essa tarefa é facultar outros grupos, com outros interesses, a comunicar por nós os nossos princípios e objetivos e, por tanto, a alterá-los e subvertê- los de cara aos que devemos convencer e organizar.

Outra evidência desgraçada é que o soberanismo galego tem fracassado historicamente na criaçom dum projecto comunicativo de massas. Os meios jornalísticos dos que nos temos dotado até hoje, de qualidade variável, tivêrom pouca fortuna à hora de se converterem em referenciais para além de um público já fidelizado ou, no mínimo, iniciado. Quem acudiu e acode a eles fai-no para apenas se confirmar em determinada leitura, mas fôrom incapazes de ultrapassar essa fronteira auto-imposta. Convém perguntar-se polos motivos e deixar de apontar para as causas inerentes ao que chamaríamos “mercado da informaçom” (custos, concorrência, difusom, concentraçom). A realidade é que os meios que construímos resolvêrom a dicotomia identificaçom/socializaçom apostando na primeira. Por outras palavras: dedicárom mais esforço e espaço a autoidentificarem-se ideologicamente do que a se converter em referentes informativos de um conjunto maior do que nós mesmos, como passo prévio necessário a socializarem maciçamente as nossas ideias.

Dizia Álvaro Cunhal no Partido com paredes de vidro: “Nom viver e conviver apenas com camaradas que desempenham tarefas próximas e compartilhem ideias e sentimentos idênticos, criando um convívio à parte, estanque, de estrato, de casta, de elite; antes procurar e sentir verdadeiro gosto de falar com gente simples, mesmo nom politizada. Con- fraternizar sem saliências nem destaques.” Aplicando-o ao caso: explicar o mundo — e nom só o que nós fazemos — do ponto de vista da nossa ideologia e em relaçom com as necessidades coletivas do nosso povo, e ademais fazê-lo nom só para nós, mas para atingir novos setores (a começar polos mais próximos, mas sem se deter aí). Algo mais produtivo do que evidenciar continuamente a opçom política por trás do conselho de redaçom; o que nom significa, em nengum caso, ocultar-se ou inibir- se, mas gestionar corretamente essa identificaçom.

É certo, em todo caso, que a estratégia mediática do soberanismo galego nom só se compom de jornais. Deixando à margem outros formatos (principalmente rádio) também historicamente negligenciados, a urgência de comunicar a proposta política do soberanismo galego tem provocado umha corrida apressada para ganhar espaços nas redes sociais — que aparecêrom oferecendo viralidade, democracia e distribuiçom ilimitada, mas com limites e perigos próprios a evitar.

A experiência da última década fai necessário refletir sobre isso se queremos estabelecer umha estratégia comunicativa também neste campo. E essa reflexom deve começar, em primeiro lugar, por reconhecer que a viralidade e a “distribuiçom ilimitada” eram umha falácia; que as redes sociais segmentam o volume e, sobretodo, a variedade do que pode ser visto por cada quem, e que por isso mesmo som necessários imensos recursos para ultrapassar essa barreira e atingir alvos fora do público habitual, em troca de retornos mui pouco significativos. Ademais, acontece também que o canal nom é controlado por nós: as redes sociais nom som neutras. Antes ao contrário, tenhem dinámicas próprias que reforçam a corrente principal de pensamento político (individuaçom, despolitizaçom, acriticismo, sucedáneo) à que nos opomos. Nelas resulta impossível criarmos umha nova agenda, nem definirmos as ideias- força do seu centro de forma a disputarmos a hegemonia: a desproporcionada quantidade de informaçom que recebemos através das redes sociais, fai com que umha estratégia prioritariamente orientada a este canal fique reduzida, no fundo, a tentar que o nosso ruído seja mais agradável do que o ruído de outrem. À nada, portanto.

Por outra parte, situar internet como campo fundamental da “nova política” criou um fetiche que, na prática, funciona unicamente aos efeitos de furtar a atividade democrática real, que se dá no corpo a corpo, aumentando bolhas políticas que rebentam a cada pouco — matando amiúde, por frustraçom, a necessidade de se organizar politicamente e mandando de volta para a casa (ao terreno da despolitizaçom e a individuaçom) ingentes quantidades de pessoas. As mesmas pessoas, de facto, que nós necessitamos ativar e organizar.

Significa isto todo que no século que encetamos, que está a desenvolver novas formas de comunicaçom, devemos renunciar a ter presença nos canais principais? A resposta é nom, evidentemente. Significa que devemos tê-la evitando a miragem de pensar que as redes e as suas regras (imediatez, limitaçom de caracteres, nula profundidade) som mais democráticas e livres do que antes foi, por exemplo, o papel impresso. As redes, como os jornais acavalo dos séculos XIX e XX, também tenhem donos e interesses contrários aos nossos, e em luta contra nós.

A estratégia comunicativa a desenvolver, para ser efetiva, deve portanto fugir de se dedicar prioritariamente a este campo. Porque nem todo o público alvo está nas redes — o que relativiza a sua potência difusora e a sua caraterizaçom como alto-falante —, nem a sua dinámica permite a menor das profundidades necessárias para a nossa proposta revolucionária. Haverá que refletir pois com a demora necessária e chegar a conclusons quanto antes para que outros — os que nos querem dependentes de Espanha e do capital — nom o fagam por nós.

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