O que o frentismo significa

O debate sobre o frentismo reaparece de forma recorrente nas controvérsias do nacionalismo galego contemporáneo. A fórmula frentista, que recolhera a sua inspiraçom declarada em movimentos do ciclo da descolonizaçom, desenvolveu umha fórmula própria na Galiza em contextos temporais, sociais e geográficos muito diferentes. O desenho, que tampouco podemos idealizar, permitiu a máxima integraçom do nacionalismo galego durante um período de tempo muito amplo, criando um marco político e ideológico, umha identidade organizativa comum que permitiu a expansom do nosso movimento e a convivência -conflitiva e contraditória- de organizaçons e milheiros de militantes que nunca poderiam ter-se reunido numha estrutura de partido único. Foi possível através dumha fórmula de filiaçom individual no que o reconhecimento expresso dos partidos apenas consiste num representante num Conselho Nacional de 100 membros, o que nom condiciona nengumha maioria. Se bem é inegável a fragilidade do conjunto do projecto histórico, é umha falácia inferir umha causalidade entre a crise do BNG, especialmente no campo de luita eleitoral, e o seu carácter frentista.

Polo contrário, as causas profundas da actual situaçom do BNG, que deveria levar a um debate profundo sobre o seu futuro -mas para actualizar e reforzar o projecto histórico, nom para abandoná-lo e entregá-lo- estám noutra parte muito diferente: num complexo e profundo processo de desnaturalizaçom política, deslocaçom ideológica, burocratizaçom organizativa e institucionalizaçom geral. Este processo, que alcançou o cúmio das contradiçons no governo bipartito, bem longe das expectativas acumuladas durante décadas sobre a identidade e propostas do projecto, foi rectificado nas últimas assembleias nacionais, sem que a sua traslaçom à práctica acadasse o mesmo grau de contundência e claridade que o expressado polos acordos assembleares.

Resulta significativo, neste contexto, que algumhas das vozes que preferem ignorar ou mesmo adoçar o balanço real desta deriva ideológica e política, bem premente, pretendam atopar soluçons em factores nom vinculados à projecçom social do BNG, de escasso conhecimento entre o povo galego e portanto dificilmente responsáveis do devalo eleitoral que se pretende combater, como a estrutura interna. Por outra parte, se bem a trajectória pessoal nom invalida em nengum caso um argumento -trataria-se dum indesejável argumentum ad hominem-, sim é legítimo advertir de certo grau de cinismo quando militantes que ocuparam importantísimas responsabilidades orgánicas e institucionais, desde as que defenderam e profundizaram na estratégia da homologaçom, pretendem agora apresentar novas fórmulas -sempre legítimas- aparentemente incompatíveis com umha crítica de certa fundura sobre os problemas estruturais e realmente relevantes para o nosso movimento. A atitude dumha força política ante os seus erros dá umha medida bem ajustada da sua seriedade.

E sem embargo, os críticos com o frentismo tenhem umha parte de verdade nalgumhas premissas, o que ajuda ao avanço desta posiçom. Por exemplo, em muitas ocasons as discusons importantes foram escamoteadas do conjunto da organizaçom e negociados fora de espaços comuns e transparentes, com um certo esvaimento da democracia interna, desde o ámbito local, com predomínio dos debates institucionais e da direcçom em maos dos grupos municipais, até o comarcal e nacional, no que poderíamos chamar umha desviaçom dirigista que nega a relaçom dialéctica entre os partidos e o conjunto do movimento soberanista e de todas e todos os seus militantes, entre a táctica e a estratégia.

Também existiram tendências oligárquicas e burocratizantes, que logicamente beneficiaram a alguns grupos organizados, e a propensom a impulsar poucas vozes públicas, agravada pola desventurada trama mediática. Por exemplo, se bem é legítimo que se fixem posiçons prévias aos asuntos de grande releváncia, nom é lógico assistir às reunions com posiçons pechadas numha maioria de debates -ao cabo, para que discutir se as maiorias som automáticas e frequentemente conhecidas antes da reuniom? Um organismo nom pode ser nunca umha trincheira defensiva, na que manter umha postura inmóbil só por um sentimento de identificaçom com um grupo, ou ao contrário, pola pertença a outro grupo ou sensibilidade diferente da companheira e companheiro que formula outra proposta; umha força política tampouco pode funcionar nunca com as regras e códigos própios de um parlamento burguês, como um foro onde expor divergências cara a um público nom participante, num esquema imperturbável de governo e oposiçom, onde consolidar a imagem pessoal ou colectiva de líderes e grupos, já que o interesse de toda a militáncia é reforçar a sua organizaçom e avançar cara uns objetivos compartidos -com certeza, a influência do fetichismo eleitoral é tam forte que se deixa sentir mesmo no ámbito interno.

Ainda existem muitas outras desviaçons do frentismo, de carácter diferente e mesmo oposto em certo sentido: umha é a assunçom de que as organizaçons podem existir sem participaçom real na dinámica da organizaçom, e unicamente activar-se para a competiçom polos órgaos de direcçom ou a fixaçom das grandes linhas em Assembleia Nacional; outra é a concepçom de que os partidos participantes da fronte tenhem que renunciar a ter vida própria e expressom pública para se subsumir por completo na organizaçom comum. Às vezes mesmo parece que temos interiorizado que a única expressom pública dumha corrente do BNG digna de se produzir é quando se trata dumha crítica à direcçom, a parte dela, a outro colectivo, à linha política ou a umha decisom relevante com a que se discorda. De facto, La Voz de Galicia quase criou um género jornalístico próprio na demoliçom do BNG atravês das suas desputas internas e graças à ausência de responsabilidade daqueles dirigentes que mais deveriam velar pola unidade e fortaleza da fronte. Mas é possível e necessário que também se fagam contribuiçons relevantes para melhorar, achegas polifónicas que somem desde a pluralidade e as distintas capacidades e desde a incidência política diferente nos sectores nos que mais influência tem cada partido ou corrente integrante da fronte.

A inmensa maioria da militáncia do BNG poderia rapidamente chamar à sua memória numerosos exemplos para cada umha destas falhas. Mas esta caricatura nom é o que o frentismo significa. O problema é que se confundem causas e consequências quando se vinculam à estrutura frentista: todas estas eivas nom só nom desapareceriam por ensalmo com a conversom do BNG num partido convencional, senom que provavelmente se agravariam. Polo contrário, este tipo de doenças som arquétipos das formaçons políticas sistémicas, estudadas pola sociologia e a politologia desde há mais de um século. Podemos pensar no modelo de democracia interna que existe na imensa maioria de formaçons política do nosso entorno e atoparemos umha récua de conspiraçons, grupos, interesses pessoais e espúrios, verticalismos, hierarquias e dependências do líder, e nom é que as forças que se reclamam da “nova política” melhorem esta realidade mais que na apariência, com estruturas nas que a participaçom militante pode ser definida, com toda justiça, como absolutamente insignificante, e os cargos intermédios e regionais -como sem dúvida som regionais os galegos- como títeres políticos. Contudo, há umha diferença que empiora ainda a comparaçom: ainda se aceitássemos que numha estrutura frontista fosse per se excessivo o poder concentrado nos colectivos organizados, estes tenhem uns organismos democráticos, umhas linhas políticas aprovadas colectivamente, umhas direçons que respondem ante as suas bases, e oferecem a possibilidade de militar a quem o desejar; os grupos informais e agrupaçons de interesses dos partidos convencionais -quiçais as baronias do PSOE, ou o círculo íntimo do líder de Podemos sejam um bom exemplo- nom tenhem nengumha destas características, senom que a sua estrutura é muito mais opaca, os seus objetivos muito mais difusos e amoldáveis a ambiçons pessoais, e a participaçom e influência neles depende fundamentalmente das relaçons pessoais com os seus dirigentes. Finalmente, tampouco podemos esquecer que em realidade as decisons fundamentais nestes partidos nunca dependem em última instáncia da vontade individual ou agregada dos seus militantes, senom dos interesses do capital em cada momento ou fase histórica, com capacidade demostrada de construir, reconstruir, moldar e vender formaçons políticas.

Nom podemos assumir o mesmo fatalismo que a mentalidade dominante quer inculcar-nos a respeito de qualquer possibilidade de agrupaçom coletiva, essa arrepiante ideia de que a natureza humana é sempre egoísta e agressiva, o que nengumha ideia nem açom poderá cambiar. Defender a vigência do frentismo nom pode equiparar-se em nengum caso a reivindicar o imobilismo nos erros, senom a ampliaçom dos acertos e a correcçom das deficiências. Do mesmo jeito que somos capazes de imaginar um país e um mundo diferentes, também nós podemos imaginar a construçom dumha aliança política avançada no ideológico e aperfeiçoada no organizativo, com umha revoluçom nas formas de trabalho e umha adaptaçom das estruturas existentes, construída mediante um processo dialéctico no que participe o movimento soberanista. A frente política deve reiterar a sua vontade de integrar a todas as pessoas e organizaçons que demonstrem vontade -real e nom só nominal- e capacidade de somar pola liberdade deste país e pola construiçom dum modelo socioeconómico radicalmente diferente (isto é o que o frentismo significa nesta fase histórica). De facto, esta estrutura abre oportunidades para o futuro, já que facilita a integraçom de novas formaçons.

Em linhas gerais, penso que estes argumentos responderiam às questons que se colocam na superficie do debate sobre o frontismo. Sem embargo, acho muito mais relevantes algumhas questons de maior profundidade, sobre as que se elude dar um debate franco e aberto, por um mero tacticismo que evita ou adia os temas fracturantes, com o qual só alonga os problemas. Nem sequer penso que tenhamos que sacralizar o modelo actual de frente, mas sim é imprescindível contar com umha forma de agrupaçom de forças, adequada à confrontaçom com o poder do Estado, baseada em reivindicaçons concretas, e que permita a convivência de organizaçons e militantes com programas estratégicos diferentes. No fundo, parte dos apoiantes da disoluçom dos partidos actualmente presentes no BNG tenhem intençons políticas diferentes, e aspiram a que umha eventual organizaçom unitária assuma um novo programa estratégico, coincidente com o seu próprio.

O debate seria às vezes mais sincero se se explicasse que se pretende fazer retroceder todo ressaibo de comunismo e criar um novo partido reformista. Aqui apresenta-se a maior aporia da tese da dissoluçom do frentismo, que evita mencionar qual seria a concepçom do mundo na que se apoiaria a nova organizaçom. Nom é possível pensar num mínimo comum denominador, porque nom existe termo meio entre a superaçom do capitalismo e a sua reforma, nem existe o empate interclassista para quem defende a loita de classes como motor da história, e a supressom das classes como objetivo último do processo revolucionário; o marxismo nom pode fragmentar-se como se se tratasse de repartir um pastel: é umha concepçom integral do mundo, com o seu núcleo na luta de classes, baseada na uniom entre teoria e práctica, que nom pode dividir-se a menos que se abandone.

Velaqui a contradiçom que resolve, com todos os defeitos que apresente, a fórmula frentista ou qualquer outro modelo de agrupaçom de forças, e velaqui as maiores objeçons que lhe podemos aponher à militáncia única: nom pretende solucionar as desviaçons e os problemas que sim existem na realidade e no funcionamento organizativo; tampouco quer profundizar nos direitos e na democracia interna, nem sequer para os militantes filiados exclusivamente ao BNG, como se afirma demagogicamente, senom que quer reducir os direitos das que optamos por militar num partido com metas estratégicas distintas às do interclassismo, a quem se nos recomenda, entre a amabilidade e a hostilidade, que nos dissolvamos ao tempo que renunciamos definitivamente aos nossos ideais e objetivos; tampouco nos permitiria construir umha ferramenta adequada para ampliar e desenvolver luita soberanista de hoje, senom que nos aproximaria mais da assimilaçom e do definitivo desarme ideológico e organizativo que tanto arela o Estado.

Comparte:

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on telegram

As últimas entradas

Arredista en papel nº21

Data: xullo de 2021 Esta novo número do ‘Arredista!’, ademais de cumprir co habitual número que lanzamos o Día da Patria, supón o décimo aniversario na súa edición ininterrompida desde aquel primeiro número en xullo de 2009. Nesta andaina a

Arredista en papel nº20

Data: xullo de 2018 Van xa vinte números desde que, en 2009, decidimos criar a revista Arredista! como espazo de comunicación do Movemento Galego ao Socialismo. Nas súas follas, que foron saíndo cumpridamente a cada Primeiro de Maio e a

Arredista en papel nº19

Data: maio de 2018 Hai un mundo onde, hoxe — mentres les este editorial —, habería unha nova república a nacer aos pés do Mediterráneo. Nese mundo, as persoas non son encarceradas por defenderen a soberanía dos seus países, nen

Arredista en papel nº18

Data: xullo de 2017 Neste novo Día da Patria o noso país continúa sumido nas consecuencias da crise, a pesar da propaganda dos gobernos galego e estatal sobre unha suposta recuperación. Analizamos, pois, de forma demorada, os pasos que desde