Luita de classes: o “retorno”

A começos do século XIX, um empresário inglês chamado Thomas Peel queria beneficiar-se da proximidade das matérias-primas, polo que levou até as ribeiras do rio Swan, na Australia, a uns três centos de obreiros. O empresário planificou e anotou todo minuciosamente para garantir o sucesso da iniciativa: licenças das autoridades coloniais, dinheiro, maquinaria, operários, trajecto da embarcaçom… Sem embargo, Peel esqueceu levar até ali as relaçons de produçom capitalistas, polo que nom conseguiu nem que lhe recolheram um pouco de auga no rio. Fugirom da sua fábrica, e adentrarom-se nas terras virges. Deixarom de ser obreiros da noite para a manhá. Erguerom as suas casas, criarom galinhas, outros mesmo competirom com o seu antigo patrom, ou simplesmente decidirom lacazanear mentres podiam. Peel decatouse entom de que nom acodiam cada dia “voluntariamente” a trabalhar na sua fábrica.

Hoje nom poderiamos relatar esta história recolhida por Marx. Seguimos a ser trabalhadoras e trabalhadores mesmo se nom soa o despertador pola manhá. Sem embargo, e ao contrário que Peel, a nossa particular amnésia nom provém da inconsciência: nós somos forçados a esquecer cada dia. Também a história e as palavras tenhem proprietários, e para eles a luita de classes é tam só umha antigualha irrisória, ou como muito um lastre na memória dos arrependidos, sepultada numha história que rematou, aplastada baixo a “lei natural” da demanda e a oferta de trabalho.

Nom só anunciaram a dessapariçom da classe trabalhadora senom a perda de importáncia do mundo de trabalho, em favor de forças do conhecimento e a tecnologia.

É certo que em muitos casos, a clase trabalhadora sofreu un caso de “identidade equivocada”, já que umha parte da populaçom a imagina composta apenas de trabalhadores industriais. Mas o factor crucial nom é umha caricatura (o processo técnico de trabalho, ou trabalhar numha fábrica, nem sequera ser pobre) senom a forma específica de explotaçom, a necessidade de vender o trabalho ao capital para sobreviver – acrescentando à vez o capital.

Existe umha distinçom clássica entre a classe obreira e o proletariado, da categoria social “objectiva” à posiçom subjectiva, da experiência do trabalho à toma de consciência. De reabilitá-la hoje, teriamos que conceder que a única categoría em certo risco de extinçom é a segunda, sem que ninguém fosse quem de subjectivar umha outra condiçom semelhante. Ademais, a direita logrou encobrir a sua defesa dos interesses dumha minoria sob umha retórica populista e interclassista, tam hege- mónica que mesmo penetrou as forças de esquerdas.

Em realidade, o mundo do trabalho continua a ser o da maioria da humanidade e a força essencial da produçom e da criaçom de valor, ainda que si se registrarom mudanças históricas. Medrou um novo modelo de relaçons laborais e industriais, um pouco por toda a parte, baseado na precarizaçom crecente; na diminuiçom de salários reais; na intensificaçom do trabalho; num aumento progressivo da jornada laboral; no aumento do desemprego e subemprego em todas as formas.

No entanto, umha análise de classe nom deveria levar-nos a cair em reducionismos já mui custosos no passado, e subestimar outros actores e alianças, nomeadamente as luitas de género e a defesa da natureza. De facto, a apariçom e consolidaçom de novos actores sociais levou a muitos sectores a propor o reemplazo dum sujeito “classista” pola simples actuaçom de movimentos sociais. Trata-se dumha proposta insuficiente que nasce da sensaçom de derrota e impotência ante a implantaçom do neoliberalismo. Nom podemos contrapor a luita reivindicativa com a política, porque estám intimamente anudadas. Se todo está invadido polo mercado, toda luita é também política e no fundo umha questom de classe, ainda que se formule desde o ámbito da vida cotidiana, e ainda que os distintos actores sociais nom sejam sempre conscientes disto.

Para todos, o principal desafio de hoje é umha nova crise capitalista. Nom se trata tando dumha maior acumulaçom de fame, guerras e opressom, como o descenso dos benefícios dos poderosos, que pagamos os povos e trabalhadores. Resulta bem gráfico que os responsáveis directos da debacle financeira, os mercados especulativos do núcleo capitalista, sejam os que em realidade plantejem, programem e executem as soluçons. Deste jeito, todas as respostas oficiais, tanto as neoliberais como as keynesianas, revelam-se como parches insuficientes que só servem para facer marketing ideológico, um auténtico desatino. Do mesmo jeito, nom podemos esquecer que –sem recuncho nas palestras mediáticas- convivem acarom da crise financeira outras duas estruturais, de nom menor importáncia, a ambiental e a energética, com a raíz no mesmo modelo irracional de crescimento eterno num mundo com recursos finitos: um problema civilizatório.

O capitalismo é em si umha crise constante, e nom só de cracks bursáteis; nom busca o bem-estar das persoas, senom o aumento dos benefícios e a plusvalia; é por isso que esige sempre tratar às pessoas como meios de reproduçom da explotaçom; polo que considera a natureza umha propiedade e demanda o espólio ilimitado dum mundo pequeno.

Os seus resultados estám bem à vista: 1.200 milhons de pessoas vivem com menos dum dólar ao dia; as 200 pessoas mais ricas do planeta tenhem maior riqueza que o 40 por cento de toda a populaçom do globo; quase a metade desta populaçom nom acede à auga potável; quase 900 milhons de adultos som analfabetos; a educaçom e a sanidade som só um privilégio dumha minoria. Tanto no passado como no presente, os avanços incessantes oferecidos polo capitalismo forom sempre os do desespero e a pobreza.

O sismo do capitalismo global tem como primeiros efectos umha maior degradaçom das condiçons de vida e de trabalho, nom sem respostas. Tambén na Galiza a classe obreira demostrou umha grande capacidade de combate, ao longo de conflitos grandes e pequenos, como expom o prolongado exemplo de dignidade do sector do metal, pero também muitos outros, como o mármore e a pedra, Caramelo, Vidriera del Atlántico, Armarios Alonso, Tréves ou Bunge Ibérica. A luita de classes nom volve com a crise: só se fai mais vissível.

No entanto, toda esta imprescindível resistência nom avonda. Hoje igual que onte, o trabalho assalariado nom é mais que a organizaçom burguesa do trabalho, sem o qual nom há capital nem investimentos financeiros. É por isso que, como dizia Marx, mesmo um ministério de esquerdas do trabalho nom poderia ser, baixo o capitalismo, mais que um ministério da impotência: “Mas os ministérios das Finanças, do Comércio, das Obras Públicas nom som eles os ministérios burgueses do trabalho?”

O problema principal nom é entom o ministério de trabalho, nem a crise, nem a burbulha inmobiliária, senom o capitalismo. A classe trabalhadora só pode suprimir a sua explotaçom se suprime a sua orige. O capitalismo pode permear certas diferências, oferecer pluralismo e até democracia formal (até que o povo se equivoque, como demonstra a história umha e outra vez), mas non pode abolir a exploraçom de classe, para nom extinguir-se. Por isso a luita de classes tem um carácter universal.

A única saída de Peel para que o seu negócio frutificasse era arrebatar aos seus ex-obreiros umhas condiçons de existência tam frutíferas, queimando as plataneiras e restringindo as terras. Essa violência nom é já necessária contra nós, porque nom podem roubar-nos duas vezes, nom podem espoliar-nos o que já nos arrebataram há tempo. Sem aguardar a que nos empacotem e trasladem a outro continente (ou só trasladem as empresas), deveriamos transformar o sistema de produçom e distribuçom de bens e serviços, para garantir o acesso universal a umha vida digna. Para permitir a supervivência, devemos procurar as terras virges que si estám ao alcance da nossa mao, fora dos mapas geográficos.

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