Feijóo à fuga

Parece que seja cousa dos grandes governantes: é virem as duras e esconderem a cabeça, encerrarem-se num bunker, viajarem às Américas: desaparecer, enfim, que tudo é o mesmo. Às Américas vai Feijóo, que diz ser uma viagem institucional à que a oposição chama eleitoral e que, na realidade, esconde uma fugida das responsabilidades, dos focos e dos microfones. O objetivo último é, embora o despiste geral, libertar-se da má imagem que dá estar o dia todo a sair nas rádios, na televisão e nos jornais visualizando a despreocupada carência de iniciativa política para combater aquela crise com que ele, dizia, ia acabar em 45 dias. Esconder-se é o próprio, mas não só dele.

Escondido está, todo o mundo sabe, o verdadeiro programa político do PP, que se nos vai revelando lentamente, como se se tratar de uma má história publicada por fascículos. Esconde-se o presidente do governo de Madrid, fugazmente saído esta semana passada do seu esconderijo para nos espancar com mais um golpe económico e social e para manusear um códice do século XII num espetáculo ridículo de adoração que, por certo, custou mais de um quarto de milhão de euros de dinheiro público, nosso. Às escondidas vai até a troika, de negro e de gris, polos grises corredores dos ministérios da Fazenda e da Economia. E também se escondem os senhoritos do NGB, que fugazmente, e para surpresa de muitos, saíram para pedir perdão com essa parafernália que no Estado espanhol se está a pôr na moda para salvar os móveis simulando arrependimento polo que sempre se fez e se continuaria a fazer se não fossem as evidências criminais que se nos revelam, cada vez, com maior insistência.

É claro que, de todos modos, de nada serve sair do rocho para pedir desculpas, porque os tecnocratas do BM e do FMI não vão mudar de fim nem de aparência, porque Castellano e os outros ladrões da cova não vão devolver o roubado assim tão fácil nem vão deixar de vender-nos lixo financeiro quando tenham a possibilidade, porque os que anunciaram proteção para o património em mãos da igreja, simplesmente, não o vão devolver ao povo, e porque, se Feijóo saísse a pedir desculpas com aquele famoso contrato com a cidadania na mão, também não terminaria com a indecência do paro, com a injustiça do IVA, nem muito menos com a demolição trágica do Estado social. Ora, a leitura que se deve tirar disso não é só a incapacidade de Feijóo, neste caso. Por trás disso há mais: em primeiro lugar, uma questão puramente ideológica, de visão do problema e de proposição da solução; e em segundo lugar, ademais, uma impossibilidade circunstancial, um constrangimento que impede qualquer iniciativa que mude a situação de raiz em em favor da maioria.

A respeito do problema ideológico, disse um amigo, não há muito, que a única crise que aqui sofremos é a crise da esquerda, e que o resto se chama capitalismo. O que cumpre, portanto, não é sairmos da crise, mas do capitalismo. Mas isso, evidentemente, não o vai fazer Feijóo nem a direita económica de PPSOE, porque a sua fidelidade e a sua crença irracional no capital estão na linha de uma posição ideológica bem determinada: a de quem está conforme com este sistema no que, para já, não há problema, e no que, do seu ponto de vista, a crise é um episódio inevitável e necessário que, como as purgas outrora, limpa dolorosamente os excessos do corpo (neste caso, económico); um processo, uma penitência que deve ser sofrida com resignação, em silêncio, sem trejeitos nem protestos. Com esta posição ideológica, chamar crise a este capitalismo que sofremos é pura circunstância, mandada polo mesmo imperativo eleitoral que obriga a mostrar-se compungido cada vez que se executa mais um curte no ensino, na sanidade, nos salários ou no que for, e a pedir um esforço para sair juntos da crise. Pura aparência.

Em segundo lugar, a respeito do constrangimento circunstancial e em descargo de Feijóo e os seus sequazes, convém notar que, com independência de quem governe, a situação será muito parecida com a que já temos enquanto careçamos de soberania real, enquanto continuemos pegados à ultraliberal UE, que hoje é mais do que nunca dos mercados e dos mercadores, e enquanto tenhamos tolhida polo Estado espanhol a nossa capacidade para pormos em andamento as políticas verdadeiramente incisivas que imaginemos à contra das que nos aplicam.

Em resumo: Feijóo fugido, o governo desaparecido, a troika ocultada, o programa fechado sob sete chaves, o capital a esmendrelhar-se de tanto rir e nós, polo momento, sem as ferramentas que permitam sair deste jogo que já matava milhões na África, na Ásia e na América do Sul, e que agora mata também no primeiro mundo, para surpresa de tantas e tantos.

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