Alonso Caxade é umha das figuras que mais se estám a destacar nestes momentos no panorma dumha mú- sica galega amiúde despreçada. Multi-instrumentista e membro de vários projectos que procuram dar fôlegos novos à cultura de nosso, conversamos com ele sobre esta necessidade, e sobre a urgência de nos comprometermos.
Fas música galega, em galego, com sonoridade moderna, e vê- se que tem saída. Logo, há espaço para isto. Por que nom se explora?
Eu acho que sim se explora, mas nom tem o apoio mediático que precisa. Eu levo trabalhando na experimentaçom musical, partindo de música galega, desde há muitos anos. Primeiro em PELdeNOZ, um dueto que fazemos jazz sobre música tradicional do Cancioneiro Popular de Dorothé Schubarth, depois em Cuarteto Caramuxo e aínda sigo combinando agora CAXADE com a Orquestra Os Modernos, um grupo no que jogamos a pensar que o Art Nouveu a Belle Époque e o Modernismo nom foram coutados por ninguém naquela altura, podendo-se desenvolver com normalidade a conexom entre as Orquestras e as músicas populares galegas. Com CAXADE queria aproximar a sonoridade das Bandas de Música a umha modesta renovaçom do folque como cançom protesto, volvendo à origem da palavra, nom com música “celta”. As ouvintes acolhérom o projeto com grande apoio e transmitindo ánsia para continuar. Em qualquer caso, e respondendo à pergunta, por suposto que ha saída e espaço para a renovaçom da música galega.
E por que se dá essa negaçom mediática da que falas?
Parece-me que há duas razons. Umha: porque nom há interesse na innovaçom em geral desde as instituiçons, para as que é mais fácil promover fórmulas mais continuístas, nom só a nível musical. E duas: há um círculo vicioso. Como há menos hábito, há menos apoio e isso fai com que seja mais difícil de ver. As apostas mais inovadoras reduzem-se a salas ou a contextos mais específicos, e portanto, nom se produz hábito. Nom é comum que se feche um telejornal ou um espaço de meia-tarde com artistas que façam uma aposta diferente. O normal é ver o pouquíssimo que há a altas horas da madrugada, ou a artistas já consagrados e com produtos que respondem a paradig- mas do estabelecido.
Mesmo assim, fronte á omnipresença dos produtos culturais impostos, há espaços de — digamos — dissidência cultural.
Para mim esses espaços som decisivos, porque sem eles nom haveria qualquer oportunidade de estar falando disto. E acho que também som essas salas as que estám a fazer trabalho de educaçom do público; mesmo sem esse apoio. Estám-se deixando ir salas, por exemplo, de cinema. Em Compostela, em Ames, nom se pode tocar nos bares. Nem as pequenas salas que faziam esse trabalho podem agora programar.
Jogamo-nos o futuro entre termos umha cultura dinámica ou a metermos num museu. Há como sair dele?
Acho que a cultura e as tradiçons para serem válidas tenhem que ter uso no dia a dia, e nom servem se estám no museu. O museu é para ver as cousas que nom podemos ver no dia-a-dia. O que temos que fazer é valorizar a cultura é fazê-la de uso normalizado, nom só para a fotografia ocasional. O problema que temos é que arrastamos o romantismo de há mais de cem anos. Tivo cousas mui boas, como pôr em valor culturas esquecidas ou o idioma. Mas o problema está em que se fijo umha foto fixa e se pretende que essa cultura nom seja viva, sobretudo no tradicional. Quijo-se meter numha urna, num museu, e que a gente observasse. Isto aconteceu numha altura con- creta. Por exemplo, aqui trasladou-se o “celtic”, — e isto tem umha parte positiva, porque fomos quem de gerar um novo produto, que nom existia aqui —, mas expugemo-lo mais umha vez desde o prisma do romantismo. Parece que cada vez que inovamos temos que continuar com esse apego a um tempo passado melhor, metendo tudo no museu. Isso ao que contribui é a que a gente veja isto como algo passado, e assim nom serve para o dia a dia. E aí é onde eles tenhem maneira de meter-nos a sua cultura como mais novidosa.
O que também está presente na tua música é a temática popular, da gente. Os temas de A dança dos Moscas são metáforas. De que?
Da realidade que vejo no meu dia-a-dia e no dos meus amigos e familiares. A Dança dos Moscas é um disco cheio de personagens metafóricos que vam desde o Afiador da Realidade (as pessoas que trabalham polo bem comum, sacando ponta, afiando a realidade pouco a pouco), até os Capadores de Extraterestres (esses seres foráneos que nos pretendem explicar como, onde e em que temos que falar, e se mesmo temos direito a decidir, capando-nos e convertendo-nos em extraterrestres).Todos eles organizados por esses Sr. Xorda (especialistas em cortar as comunicaçons entre a cidadania, meter barulho para distanciar-nos entre nós e ter parte do seu trabalho adiantado), e sobre tudo pola Gente Pota (os verdadeiramente poderosos que nos preparam o menú que nom é tal, só é manjar para insectos, e sobre os que algumhas pessoas decidem voar e revoar, bailando esa “Dança dos Moscas”.
Além de no plano audiovisual, nos últimos tempos tens-te comprometido politicamente de maneira mui clara. Por que, e por que agora?
Sempre estivem implicado, mas nom inserido num partido político. A minha implicaçom era em política educativa no meu trabalho diário e também no que tem a ver com o social e cultural, concretamente na música, onde sempre procurei projetos que contibuissem neste sentido. Decidim-me a ir no projecto do BNG-Assembleias Abertas em Ames porque considerei que me devia posicionar. Como se soe dizer: “tinha-me que molhar” e “dar a cara”, mais ainda do que o estou fazendo na música e noutras atividades. Tem a ver, suponho, com cumprir umha idade na que um se começa a perguntar por cousas que nom se perguntava na adolescência. Por outra parte, temos uma filha e outra em caminho, e há umha cousa que eu reproduzo nos concertos, que é que temos de trabalhar para mudar o mundo polas filhas das nossas filhas. E notei que era o momento de nom só fazê-lo através da música, nas associaçons ou na quotidianidade; mas também no plano político. E tem a ver, sobretodo, com o momento actual do nacionalismo. Eu estivem sempre ligado ao independentismo, e vendo a linha pola que se está a avançar em grupos especificamente galegos, topo que também quero contribuir. Fago-o com a ilusom de um dia podermos estar de novo todos juntos num projeto para o país, feito para nós, sem intermediários de Espanha.
A cultura e tradiçons, para serem válidas, tenhem que ter uso no dia a dia, e nom servem se estám no museu