Maos tempos aqueles onde a esquerda tem que defender a evidência, defender, em palavras do filósofo Alba Rico, a brancura da neve. Maos tempos aqueles onde alguns no nacionalismo vacilam em defender a soberania dos povos. Pois ambas cousas som as que estám em causa ao falarmos de Cuba.
Porém, lembraremos a branqueza cubana: sermos marxistas conleva especial atençom às condiçons materiais básicas. Os logros de Cuba som em muitos indicadores equiparáveis aos países do centro mundial e superiores aos dos países menos desenvolvidos. Repassemos: taxa de analfabetismo em América Latina do 11,7%, 0,2% en Cuba, taxa de escolarizaçom no ensino primário do 92% em AL e 100% em Cuba, no secundário 52% e 99,7% respectivamente. Cuba é o país com maior nºde professores por habitante no mundo, aulas de 20 alunos máximo, o que nom passa na França, por exemplo (dados da UNESCO).
Cuba tem agora 67.000 médicos, 6.000 em 1959. Acorde com The Guardian, Cuba tem dous vezes mais médicos que Inglaterra para umha populaçom cuatro vezes menor. Em 1959, a taxa de mortandade infantil era 60 por mil, em 2009 de 4,8; a mais baixa de todo o continente americano do Terceiro Mundo, menor mesmo que nos EUA.
Segundo o Banco Mundial, apóstolo do neoliberalismo, “o país criou um sistema de serviços sociais que garante o acesso universal à educación e à saúde, proporcionado polo Estado. Este modelo permitiu Cuba acadar umha alfabetizaçom universal, erradicar certas enfermedades, acesso geral a água potável e à salubridade pública de base, umha das tasas de mortandade infantil mais baixas da regiom e umha das mais longas esperanças de vida.”
Segundo WWF/Adena, Cuba é o único país sustentável do mundo, ao combinar um alto índice de desenvolvimento humano (IDH) com umha pegada ecológica assumível.
Quantas vidas tem salvado e melhorado Cuba, nom só no seu próprio país, senom com missons solidárias noutros países, quantas vidas que nom acabárom nas fosas comuns ou no Océano Pacífico? Resposta difícil para os “defensores dos dereitos humanos” do capital.
Mas a manipulaçom mediática, o reino da hipocrisia e a magnitude da excepcionalidade cubana, muitas vezes repetida, pode ser calibrada com um só exemplo: a última das “manifestaçons” do colectivo “Damas de Branco” contou com 10 pessoas, mas recebeu repercussom mediática mundial. Qualquer protesta vicinhal na Galiza resultará mais numerosa, mas ninguém aguarda vê-la na capa da CNN. Ainda mais, para sublinhar a suposta falha de liberdades formais em Cuba e a “malignidade do régime”, os meios do Estado espanhol salientavam que desde março “les exigen un permiso semanal para poder manifestarse” (El País, 19/04/2010). Só umha cidadania absolutamente desinformada e desmobilizada pode ser manipulada ignorando que no Estado espanhol é preciso um permiso para umha manifestaçom, e que mesmo muitas resultam proibidas. Resulta ademais óbvio sublinhar que as mais graves violaçons dos direitos humanos que acontecem no mundo nom recebem a lupa abrasadora que recebe Cuba, que os assassinatos de sindicalistas e indígenas (Colómbia), de jornalistas tras golpes de Estado (Honduras), que o genocídio planificado (Israel)… em nada minarám os sorrisos de encontros bilaterais e acordos preferentes de associaçom ou comércio, no entanto Cuba sofre a “Posiçom Comum” da UE e o bloqueio dos EUA.
Cuba é ademais um exemplo de soberania para aqueles que defendemos a soberania dos povos. Soberania nom só entendida como a possibilidade do seu povo de tomar decisons respeito aos seus assuntos sem ingerências externas, num continente onde as intervençons estadounidenses fôrom constantes: invasons (Guatemala, 1956), derrocamentos e ditadura (Chile, 1973), financiamento da contra (Nicaragua nos 80), etc. Falamos também da soberania do seu povo em decidirem o seu sistema político e as suas políticas económicas: soberania do povo e nom das empresas. Por pôr um exemplo actual dum Estado “forte”, do 1º mundo, o espanhol: os mercados tusírom, o tipo de interesse da dívida-país aumentou e os ministros do PSOE tivérom que viajar correndo por Europa a assegurar aos seus jefes, o mercado soberano, que os seus súbditos fariam o necessário no ajuste, “custar o que custar”, em palavras de Zapatero: já sabemos a quem querem fazer pagar a crise. Essa é a soberania que nos querem deixar baixo o capital: decidir quem vai correr ao chamado dos jefes.
Mas parece que nada pode fender na consciência de muitos, já que a “democracia” bem pode bombardear países e provocar milhons de refugiados, e na “ditadura” participar o 95% das pessoas nos processos eleitorais, que a representaçom vale mais que a realidade, e a imagem da farsa opaca a verdade. Quiçá os vencidos na esquerda polo fetiche ocidental precisam confites de cores a cair sobre pavilhons ateigados e gastos dum candidato (de dous indistinguíveis) de 600 milhons de euros que poucos (sobre tudo transnacionais) podem pagar, para Cuba receber o certificado de boa conduta. Mas os que de verdade mandam bem sabem que esse nom é o problema, mas ajustar-se aos seus ditados.
Vemos os quadros conceituais da direita furando neles: resulta necessário entom recordar que os dereitos só existem se se exercem, e se todos podem exercê-los. Se nom, nom som direitos, som privilégios dos que os podam pagar, e a sua enunciaçom placebo. A linha que separa essa conceiçom dos dereitos é a mesma que ao falarmos da palavra “liberdade”, prostituiçom da que muito sabemos na Galiza nestes momentos.
Resumindo, aqueles que mais berram que Cuba é um inferno som os que mais trabalham para que o seja realmente, mas que seja o seu inferno. Aqueles que nos acusam de ver um paraíso fora da terra, som justo aqueles que, só para Cuba, elevam o listom da exigência até o ceu, até ser sempre inalcanzável. Aqueles que vemos em Cuba umha obra humana, com os seus grandíssimos acertos e com as suas insuficiências e cámbios precisos; somos os inflexíveis, caducos, desfiladores marciais. Mas nada mais intransigente que a sua condena inmutável a umha Revoluçom que só comete um pecado imperdoável: enfrentar o imperialismo e construir o socialismo. Nós estamos com Cuba, sem envergonhar-nos nem pedir perdom aos vozeiros da morte, da fame e das bombas. Nós estamos com a vida e com a dignidade: nós estamos com a Revoluçom.