Associativismo de base como ferramenta para a libertaçom

Movimento associativo e espaços para a (re)construçom nacional

Assistimos durante os últimos anos a umha importante ativaçom do tecido cultural na Galiza, impulsionado desde a base por distintas pessoas e coletivos que operam na órbita da esquerda soberanista. Por volta desta prática associativa tenhem-se criado quase de forma paralela, numerosos centros sociais em distintas vilas e cidades galegas, alguns com maior sucesso que outros, mas todos comprometidos com a criaçom de espaços necessários desde os que contribuírem ao processo de (re)construçom nacional. Sem dúvida, é este o objetivo comum a todos eles, servindo também de ponto de partida desde o que sentar as bases necessárias que todo processo emancipador precisa.

Estes centros sociais estám a ser fundamentais na articulaçom deste novo jeito de entender o ativismo cultural em chave nacional e popular. Em primeiro lugar porque facilitam um espaço físico em que desenvolver a própria prática associativa, nom só no que diz a respeito das atividades concretas que se programam com caráter público, mas também a respeito da atividade organizativa que se realiza de portas para dentro.

Para além do papel funcional como espaço físico preciso para o desenvolvimento associativo nas suas múltiplas facetas, os centros sociais som também fundamentais porque operam como espaços simbólicos, como centros referencias no nível cultural, idiomático, social… nom só nos seus respectivos ámbitos de atuaçom, mas também desde umha perspectiva geral, pois articulam e coesionam umha ampla rede da cultura popular galega a nível nacional. Além de todo isto, constituem lugares nos que trabalhar desde abaixo e fora das vias que estabelece o “culturalismo oficialista”.

Iniciativas centradas na realidade histórica, cultural e social

Som muitas as iniciativas que nos últimos anos tem aportado o movimento associativo de base na Galiza. Destaca, entre outros nom menos importantes, o trabalho de investigaçom e recuperaçom histórica, desde a história política e social até a cultura tradicional ou a língua, cobrindo um espaço que fica fora do ámbito institucional e do oficialismo. Paralelamente, hai que destacar também o esforço que se está a fazer pola difusom e socializaçom destas pesquisas que contribuem a afiançar a cultura própria, fazendo o contrapeso necessário à cultura dominante.

Outras das atividades mais importantes que se tenhem realizado nos últimos anos som as relacionadas com a prática desportiva, nomeadamente aquelas modalidades desportivas tradicionais como a bilharda, os bolos celtas, a luita tradicional galega, o jogo do pau… ou ainda aquelas mais próximas no tempo, mas que também entroncam com o nosso ámbito histórico-cultural comum, como no caso do futebol gaélico, de recente apariçom na Galiza. Estas práticas desportivas, além de contribuírem à recuperaçom da nossa própria tradiçom cultural, ajudam a vertebrar o país, estabelecendo umha série de interrelaçons entre os distintos coletivos que operam no país e entre as vilas e cidades galegas.

Um jogo popular como a bilharda, praticado durante o passado no ámbito rural, nomeadamente como umha atividade de lazer, passou na atualidade ao ámbito urbano, chegando a constituir nestes últimos anos umha prática desportiva articulada a nível nacional a través da Liga Nacional de Bilharda, sendo a dia de hoje poucos os lugares da Galiza nos que nom se pratique ou nom se conheça este desporto. O mesmo está a acontecer recentemente com o futebol gaélico. Neste caso tratase de um desporto que nom é específico da tradiçom galega, mas consolidado noutros países do ámbito do que popularmente conhecemos como “naçons celtas”, contribuindo por tanto a estabelecer relaçons desde a nossa realidade cultural, em pé de igualdade com outras naçons e nom subordinados aos centros do poder político e econômico.

Práctica social e afortalamento do processo emancipador

O movimento associativo tem contribuído historicamente na Galiza à vertebraçom social e cultural do país, nom só por parte daqueles coletivos mais cientes com vontade transformadora e de intervençom social, mas também aqueles que operam desde umha aparente “neutralidade política”. Estes últimos, muitos deles relacionados com atividades exclusivamente culturais como a música e dança tradicionais, grupos teatrais… tenhem também contribuído para a criaçom de consciência no plano da nossa identidade cultural diferenciada, ainda que às vezes também desde umha óptica assimilacionista, entendendo a cultura popular como um enfeite, como umha lembrança do que fomos em tempos pretéritos, até atingirmos o “atual nível de desenvolvimento cultural”.

Produze-se neste caso umha identificaçom da “alta cultura” com a cultura dominante e referencial, no entanto a cultura popular é identificada como algo subsidiário dentro dum outro processo de construçom nacional que nega outras realidades nacionais diferentes à da cultura dominante, estabelecendo-se umha situaçom que poderíamos qualificar de “diglossia cultural”. Para Amílcar Cabral, pai da independência cabo- verdiana e guineense, “a libertação nacional é necessariamente um ato de cultura”, e diz a respeito do colonialismo português na África: “o colonialismo, que reprime ou inibe pela raiz as manifestações culturais significativas da parte das massas populares, apoia e protege, na cúpula, o prestígio e a influência cultural da classe dirigente”1.

Tem de ser responsabilidade dos setores sociais mais cientes saber canalizar o potencial social existente, procurando introduzir certa carga ideológica ao trabalho cultural para irmos avançando no processo de construçom nacional. Um processo de libertaçom nacional sólido e com vocaçom de sucesso há de assentar numha base social organizada, quer no terreno social, cultural, desportivo… quer no terreno político ou sindical.

O caminho a seguir passa pola recuperaçom e criaçom de referentes que consolidem a nossa realidade nacional e nos situem a nível internacional, procurando o relacionamento com outras naçons do nosso ámbito cultural, linguístico, histórico… A cultura, neste sentido, há de operar como marco comum desde o que cimentar o processo de libertaçom em toda a sua amplitude. Voltando a Cabral, “sejam quais forem as condições de sujeição de um povo ao domínio estrangeiro e a influência dos fatores económicos, políticos e sociais na prática desse domínio, é em geral no fato cultural que se situa o germe da contestação, levando à estruturação e ao desenvolvimento do movimento de libertação”2

1 Cabral, Amílcar: 1970, Libertaçao Nacional e Cultura, (em Nacionalismo e Cultura, Laiovento, 1999)

2 Cabral, A. Ibidem

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